sexta-feira, 23 de abril de 2010

(Relatado por Adriano Salgueiro)

Eu entrei de fininho em casa, coloquei as coisas na mesa sem fazer barulho. Liguei a televisão no mudo e tirei o terno e a camisa, me deitei no sofá e fechei o olho para fingir que dormia, mas ela não veio... esperei por quase 10 minutos antes de realmente adormecer.

Acordei sentindo um cheiro desagradável de comida estragada, ainda meio tonto e nauseado pelo odor fui à cozinha e percebi que havia restos de comida envelhecida no fogão, joguei tudo no lixo e fui ao quarto saber como estava minha esposa.

O quarto estava meio diferente, os móveis em outras posições e uma foto estranha no criado mudo retratava minha sogra com um cara que nunca havia visto. Muito estranho.

Fui andando pela casa, e tudo me parecia diferente, a cor das paredes e a mesa da sala de jantar, o sofá era maior e mais novo, e por toda parte eu via as fotos de uma família grande e feliz, até perceber com um horror externado em tosses sufocadas que aquelas fotos eram da minha própria família, ou da família que eu teria no futuro.

Eu também custei a entender o que acontecia, mas em algum momento após o meu sono eu devo ter sido transportado para algum tipo de universo paralero ou algo assim... não tem mesmo explicação lógica.

Andando pela casa, consternado pelos fatos e chorando uma amargura profunda quase não consegui ouvir que a porta da frente estava se abrindo, ainda com o velho rangido seco, corri para o quarto debaixo da escada e fechei a porta à chave, tateando na parede o interruptor consigo acendar a luz e ver de onde o mal cheiro estava vindo.

Abaixo da escada estava empilhado seis carcaças de cachorros mortos e em putrefação. Engoli o medo com sabor de larvas vivas, sufoquei o grito de pânico e entre as batidas do meu coração consegui ouvir uma voz velha perguntar quem havia limpado a louça.

Eu poderia sair dali naquela hora e acabar com o sofrimento, tentar explicar o que havia acontecido e fingir que não haiva visto os cahorros, mas antes que pudesse tomar qualquer ação as carcaças mortas mexiam-se em uma sincronia assutadora, cara parte mutilada dos corpos caninos movia-se simultaneamente para o mesmo lado, e as larvas subiam e desciam acompanhando a respiração dos animais.

Jé todos de pé, formando o batalhão macabro, os cães me olhavam com desejo de morte e fome de carne humana, se o inferno se abrisse naquele momento revelando seus segredos eu ficaria menos assustado... enfim, sem saída, entreguei-me ao meu destino.

A primeira mordida foi a que mais doeu, estraçalhando silenciosamente minhas cordas vocais e me impedindo de gritar durante toda a mutiliação, demorei para morrer e espero que o próximo que vier demore também... e que seja eu a dar a primeira mordida.

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